quarta-feira, 28 de abril de 2010

Como é bom ser vândalo.

Andei por aí - cego e louco -.

As estruturas de concreto fincadas no chão,
vejo ainda cabelos coloridos, pinto paredes
a expressão para mim é essencial. Uma vírgula vital.

Sonoplastia de fúria, misto coletivo de sopros e vento
venho aqui aos passos tortos, aquém da razão
plenitude, aqui estou.

Agora há passos largos.

Sigo de olho na lua,
afinal o tempo é hoje
fiz minha cabeça para viajar
escondi o resto do $
mastiguei a “geração beat”
carreguei minha intenção
quero (vou) simplesmente entrar dentro de um beijo.

E.
Música e poesia, poesia e música
nunca foram tão íntimas.

E.
É a realidade a melhor realidade para viver drogado.

sábado, 10 de abril de 2010

Preciosidade roots.

A garota-mulher que dançou twist
com minha alma
é aquela que trilha por versos
eu a amo e desisti de me conhecer
compadeci, virei poesia de dois
e meus cabelos estão alegres.

É inverno. Tudo é terno.

Sinto. Cada gravidade da música
faço parte dela, soul humano
e tenho saudades.
POR-QUE-ESSA-PORRA?

Na levada da dança,
acho o brilho do inverno
não canso de olhar o céu
lá algo há, paz de lá se colhe no pé
cheira orvalho da manhã
plantei a semente,
preciso (é) ter fé.

Amá-la em exaustão.
Amá - la em exaustão.
Levá-la a exaustão...

Obrigado.
Estou me sentindo violentamente feliz.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

A história da estória.

Dormiu ali mesmo, com um pequeno caderno e uma tinteira para anotar seus sonhos. Era definitivamente um sonhador, vivia entre as nuvens e as estrelas. Calado. Sóbrio e caolho.

Sua única visão era pura vertigem da alma, eram objetos reais e verdes. Quando ficava tonto, os verdinhos apareciam e um tuim tomava conta de seus ouvidos num sensato excesso de loucura.

O corpo deitado, o olhar estrelado e uma atitude desvairada. Literalmente descrito.

Ali mesmo, sonhou... sonhou que dançava num carnaval psicodélico de emoções, as esbeltas cores burlavam as leis da física tocando seus espaços astrais, o vento trazia a mudança e presente Era a Glória da Manhã.

Acordou, anotou e não se levantou. E pensou: “Que graça nessa vida há?”

Dissertou:

“A graça dessa vida, mesmo que vista por um só olho, é desenhar sonhos criando personagens, se isso te faz feliz ( a mim faz), e sinceramente... paro e penso, depois olho as estrelas não sem antes reparar no céu Azul-Royal...”

Tomou um longo banho e um longo café. Mais um café. Abriu a porta, desceu as escadas para então ganhar a rua. Dê passo em passo, pisava sempre com o pé direito à frente.

Via as pessoas, fechadas nos seus mundos, as cumprimentava como se tirasse um chapéu imaginário. O taxavam de louco, ele costumava dizer sarcasticamente: “loucos somos nós...”

(...)

Acordou ouvindo um tuim...
e concluiu que continua impossível tapar o sol com a peneira.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Manifesto.

Uma rua. Consegue-se ouvir o canto dos passarinhos, são canários amarelos cheios de vida e de peito estufado, tem árvores fincadas em cada esquina e as pessoas nem se conhecem, mas se cumprimentam. Poucos passavam ali, os que passavam quase sempre em baixa velocidade e cheios de hospitalidade prontos para cumprimentar quem quer que fosse.

Quem quer fosse.

Uma padaria, uma oficina e um buteco. A soma da rua Felicidade.
Subúrbio recheado de emoções dentro de suas alças de concreto, aqui as flores amarelas caem nostalgicamente e nem é primavera. O inverno começou hoje , o frio chegou. Fez bem.

A rua virou um carpete de flores e as pessoas sorriem com seus cachecóis, elas estão vestidas na cor da paixão agem como se as luzes estivessem apagadas e tudo parece um louco videoclipe. Amores nasceram e renasceram, as lagrimas caíram unicamente de alegria e alguns pronunciavam poesia, era algo tão GRANDE que chegava a ser sobrenatural.

Tão belo esse poder do ser humano de contagiar. Contagiou a todos, do mecânico cheio de graxa a senhora com o cesto de compras. Foi a primeira vista e então aconteceu uma motivação popular, um folclore bem diante dos nossos olhos. E era verdade.

Uma rua.
Bonita, sua, nua.
E nós ainda podemos ser maiores que a humanidade.

domingo, 4 de abril de 2010

Parando pra pensar...

Posso ver os dias passarem rápida-e-lentamente. A minha vida é um flash-back, quase toda ela já vivida até extra-sensorialmente sentida. Estou velho, 78 anos se quer saber. Se minha voz era leve e serelepe, e cantava pelos ouvidos das raparigas, hoje é aguda, gorda e não dá nem pra rock.

As mulheres não tem a mínima atração por mim, não tenho uma ereção há 21 anos 4 meses e 6 dias, isso sem falar na comida péssima que servem aqui nesse asilo, que sabe lá deus onde fica.

Não saio da cama já faz alguns dias. Mensagens são refletidas na minha cabeça: vejo Teresa, minha ex-mulher e eu ainda novo fazendo amor na praia da Ajuda, próximo ao caos e em meio ao aconchego. Tão jovem, a vida uivando através dos meus beijos, os deuses do amor pairavam dois pés acima de nós e era sensível uma temperatura branda de brisa.

- Ah, Teresa será que ainda se lembra de mim?

- Onde você estiver... “não” te amo mais... queria fazer sexo com você...ou ao menos falar sobre o assunto.

Acho que sou um safado. Bom, um velho safado. As doses de conhaque viraram coquetéis de remédio, as putas viraram enfermeiras velhas sem sal que tocam o seu ânus e as espeluncas, bem as espeluncas definitivamente não tem o mesmo charme.

Estou numa espelunca agora mesmo.

Levantei e sai pelo jardim, fui ao limite do meu andador. Ascendi um dos meus últimos charutos Dona Flor, parei de frente a uma figueira imponente e velha. Lembrei que tenho filha, Ana.

- Ah Ana lembras de mim? Será que sabe que existo, como alguém normal?

Por um momento me desconheci, sai da inércia por alguns minutos ou horas, não sei. Envelhecer para mim teria que ser algo tão natural, e naquele momento simplesmente foi.

Uma ventania começou. Meu andador voou para longe, pude ouvi-lo despedaçar-se. O meu pouco cabelo que restava batia rebelde com vento, a figueira tremia como vara verde mas ainda era ela mesma, cheia de imponência.

A velocidade só aumentava, a da vida e a do vento, o velho só queria saber de olhar o horizonte e sua paralisia não era a falta do andador, era a proximidade da maior liberdade que já existiu...

Antes de morrer ele teve uma ereção.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

1941.

Na minha cama e sem pudores. Desisto de ser um personagem fantástico, só penso e penso numa solução, impossível encontrar. Alguém disse para vasculhar lá fundo e que devo me concentrar (então fechei os olhos e prendi a respiração), os pensamentos outrora latentes, evaporaram por mais ou menos 7 segundos. Ufa.. A lua é a prata dos amantes, da minha janela a transformo em correspondência com meu amor, inspiro uma telepatia-gritada dialogando com as estrelas em tom enaltecido. O monstro jogado as tuas esquinas, tais esquinas esguias e cheias vermes amarelo-abobora que rastejam. Escondo-me. A noite é fotografia Vitoriana, escuridão-claustrofóbica em meio caos e o barulho das avenidas. Sim, respiro.

Me perdi para me encontrar, nesta noite de luar cheio as sensações acontecem, por elas sou completamente invadido e desprovido da moral-sanidade. De novo, me escondo. Estou no meu exílio e com a faca cravada na carne, o sangue e risos sarcásticos: tudo tão real. É uma transformação, e me aceito.

Grades olhos se auto-encaram, as maças podres se auto-mutilam sobre a mesa longa de jantar, há tempos esquecida. É tão belo e vivo quando alguém ama a própria dor, não existe culpa, soa como um ato grandioso, o último, antes do fechar das cortinas vermelhas-celestes.

A luz que tem minha cama, dos meus olhos a ponta do pé, a luz que tem meus olhos que refletem a lua em labaredas. Sei, o peso que tem um olhar e o amanhecer vezes me castiga, vezes me instiga.

Os mesmos pecados para os mesmos homens, sempre foi e sempre será assim. Herdeiro maldito, tenho um buraco negro bem aqui na minha cabeça, um completo vazio que se manifesta em momentos-inconseqüentes beirando o extremismo, confesso que cheguei a atravessá-lo. Faca na carne, pacto de sangue. Escorrendo pelas lacunas e degustando um doce conhaque, faço-me um sentimentalista barato e invoco uma lira só para lembrar que um dia fui alguém, um amante do teatro e das várias facetas humanóides. Sim, sem pudores.

Odeio o barulho das avenidas.

Lawrence Talbot